O Conto da Medusa

Segundo Capítulo


Medusa fica sem saber o que fazer, nunca ninguém havia sobrevivido ao seu olhar, até agora.
Menelau havia sido o primeiro e ela não sabia se isso era bom ou ruim.
- O que uma dama faz em meio a um local tão devastado? Aqui é uma área perigosa, dizem que há um monstro que vive por essas bandas.
Mal sabia ele que estava falando com o próprio monstro.
- E como é esse monstro?
- Obviamente nem imagino, por que nunca o vi – diz Menelau rindo da sua própria deficiência.
- E não é perigoso para você estar aqui? - estranha Medusa.
- Não tenho medo dos monstros que existem dentro das pessoas, porque deveria de ter destes que nem sei se são reais? Aqui na natureza minha arte se torna realidade, busco minha inspiração no ambiente que a sociedade rejeitou. Quer ouvir uma música minha?
- Claro... - diz ela.
Menelau toca uma música sobre o amor entre dois jovens de Tebas, a música emociona Medusa.
- O que achastes? - pergunta ele.
- É uma música realmente linda – diz ela.
- Você ainda não me disse o que faz nesta floresta.
Medusa vira o rosto, fazia anos que ela não conversava com alguém, mas não queria mentir, porém não via outra escolha.
- Venho aqui para colher flores... - mente a górgona.
- Aqui é perigoso para uma dama tão linda.
- Você nem pode me ver, como poderia me achar linda? - diz a moça rindo.
- Eu posso ser cego dos olhos, mas meu coração não é cego. Ele vê muito bem e ele vê você.
- Muito galanteador o senhor, não?
- Desculpe se lhe pareceu isso, eu estou apenas dizendo a verdade.
Medusa fica envergonhada com as palavras de Menelau.
- Agora devo partir. - fala o rapaz se levantando.
- E nós nos veremos de novo? - pergunta ela.
- Você provavelmente me verá, agora eu só te verei se os deuses me fizerem um milagre.
Medusa tapa a própria boca notando a gafe que havia falado.
- Me desculpe, eu não quis...
- Relaxe, bela dama. Será que eu posso lhe dar um abraço de despedida?
Medusa sente medo de se aproximar do rapaz, as cobras que estão em sua cabeça no lugar de seus cabelos podem atacá-lo, ela não sabia se por trás daquelas peçonhas havia veneno então decide que é melhor não arriscar a vida de Menelau.
- Talvez uma próxima vez.
- Então haverá uma próxima vez?
- Toque sua harpa todo dia neste local, quando eu vier colher flores e a ouvir eu virei para lhe dizer oi.
- Tocarei todos os dias e te aguardarei.
Os dois vão embora, Medusa volta para sua caverna e procura por uma espada ou faca no jardim de estátuas-homens que havia na floresta. Até que encontra uma espada curta, ela vai até uma pedra e coloca uma serpente sobre a rocha, segurando-a com a mão e com um golpe de espada arranca a serpente de sua cabeça, Medusa urra de dor ao arrancar o animal e o sua cabeça começa a sangrar, ela segue com o procedimento até que sua cabeça fique totalmente sem nenhuma cobra.
A partir daquele dia Medusa começou todo dia a arrancar as serpentes de sua cabeça, pois toda noite enquanto dormia elas renasciam.
Esse ato de submissão a estava enfraquecendo, mas ela estava apaixonada por Menelau, mesmo ele não podendo saber a verdade sobre ela.
Toda a tarde ela aguardava ansiosamente o som da harpa e então ela corria até ele, os dois passavam as tardes juntos, Menelau ensinava música para Medusa enquanto que ela lhe falava das estrelas, dos animais e de tudo aquilo que ele era incapaz de ver.
Ela sempre ia embora antes de anoitecer, tanto para que ele não corresse perigo por estar na floresta à noite, tanto por ter medo de que as serpentes renascessem antecipadamente e ele soubesse o monstro que ela era.
Mas um dia tudo isso iria mudar...
Medusa e Menelau estão deitados na grama, ele toca sua harpa suavemente e ela olha para o céu, estava feliz em ter ele na sua vida.
Dois homens chegam sorrateiramente para perto de onde eles estão. Quando um grita:
- Irmão! Venha, achei o monstro!
Medusa e Menelau se assustam com a gritaria, o barulho de cães ladrando e de movimentação na floresta.
- Encontramos você, monstro! - grita um dos homens.
- Medusa, o que está acontecendo? - pergunta Menelau.
Ela esconde seu rosto e começa a chorar.
- Olhe irmão, ela está fazendo um refém!
- Refém? - questiona Menelau.
- Calma, homem! Nós vamos te salvar desse demônio!
- Salvar quem? De o que?
- Você mesmo, senhor!
- Eu não sou refém.
- Então você está ajudando ela? Vamos matá-lo também!
Os dois homens partem correndo para cima do cego e Medusa em um ato descontrolado decide defender seu amor.
- NINGUÉM VAI MACHUCÁ-LO! - grita Medusa virando-se e encarando os dois homens que gritam até se transformarem totalmente em pedra, logo em seguida Medusa se põe a chorar.
- Bela dama, o que ocorreu aqui?
- É verdade, Menelau... - desabafa Medusa – eu sou um monstro...


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